Olá

Bem vindo a partes de mim



terça-feira, 24 de janeiro de 2017

eu não desperdiço café
não sei ficar pela metade
no meio do caminho
deixando aqueles dois últimos goles pra trás

eu não abro mão do café
nem do beijo molhado
nem da falta de ar
nem sentir o peito quente de amor
de novo
eu não sei
nem quero aprender
a desistir no meio da bebida
nem da vida
nem do copo
nem do desejo

eu não sei
nem quero
aprender a metade
a abrir mão
de sentir tudo
de ser tudo

de queimar a boca
com a bebida quente

eu só bebo
se for pra deixar a marca

domingo, 22 de janeiro de 2017

eu gostei quando vi a gota do café caindo na xícara
na foto tremida, que não me trazia nem cheiro nem gosto
me trouxe uma certa segurança de quem vê a paz se estruturar
depois de tanto tempo de guerra, fumaça e caos

de alguma peculiar maneira que ainda não consigo explicar
te ver bem me faz um bem danado
desses que corta a tristeza e rasga a solidão

chove dentro chove fora
a cidade parece ouvir o ritmo do meu corpo
e ao invés de ditar seu próprio,
acaba sempre por acolher o meu

hoje a chuva tão casual
era o recado que minha alma cantava em tom agudo demais
desses sons que o ouvido humano ignora
mas que a natureza sempre interpretar com sabedoria e paixão

chove dentro chove fora
eu sinto sua falta
do tempo que nossos cachos corriam e dançavam
em outra chuva feito essa, que se derramava de alegria
ao invés de saudade

a gente corria pela universidade deserta
que sempre se preenchia com nossos sonhos
que eu não tenho mais a ousadia de sonhar ou deixar correr sem você

e dói ver você ser outra
outra que mudou num caminho diferente do meu
outra que cresceu longe de mim
outra que apertou o passo seguindo em outra direção

eu já sabia das mudanças
eu as esperava, até
o que dói é ver que mudamos, mas em tempo, ritmos distintos
não somos mais a mudança juntas
somos agora a partícula que início ou fogo mas se perdeu na combustão

sinto sua falta
de tudo que éramos, de tudo que podíamos ser
mas já não somos mais
nem eu sou eu
nem você é você
as duas
deixamos o nosso ponto de encontro

ao sair
esquecemos a luz acesa
é só um ponto aceso na estrada que traz lembrança.
não tão aceso à ponto de ser convidativo
nem incômodo o suficiente para o provocar esforço de retornar para apagar

é só luz
como a das estrelas que vimos naquela noite em pirangi
que corre no espaço rumo ao infinito
mesmo já não estando ali