Olá

Bem vindo a partes de mim



segunda-feira, 28 de março de 2016

De amor não morremos

As veredas do coração nunca foram caminho fácil a se desbravar
se dividem mais que o esperado
se cruzam, entrecortam, se esbarram umas nas outras
formando um labirinto tanto tortuoso quanto mágico


O amor quase sempre me deixa inebriada
preciso confessar; não sou daquelas que dizem não
e todas as vezes que o amor me chamar, eu me sinto na obrigação de ir
não me culpe
faz tempo que assumi um compromisso muito forte ao qual não posso me desvincular: 
com meu coração.

e por isso, toda vez que o amor chama eu vou
sorrindo
amando
correndo
feito uma garotinha sem medo

Porque este eu aprendi a deixar na estrada, num canto
ou, quando o levo comigo, deixo bem guardado na bolsa
que é pra ele não se sentir dono e tentar interferir no caminho

não fui feita pra pouco
não fui feita pra metades
fui feita pra amor

e amores não foram feitos para serem questionados
foram feitos para serem vividos



A falta de amor dói.

A falta de amor dói, e não é pela ausência em si
é por tudo que de que se preenche esta

Não é como a falta de ar, que deixa os pulmões com fome
a falta de amor transborda de intolerância, de ódio, de maldade.
é a falta de cor.
Um cinza pesado de mais, que tenta arrancar as cores de quem as tem

A falta de amor é a lacuna de humanidade
é quando não conseguimos enxergar nos outros quem eles são - humanos


A falta de amor é tão cruel que mata quem a tem
ao mesmo tempo que a engana, diz o o problema são os outros.

Os problemas nunca são os outros. O problema é de quem não ama, de quem não tolera, de quem abomina, de quem exclui, de quem tem nojo.

O problema nunca vai ser o amor, mas sim a falta dele.



sábado, 5 de março de 2016

A mulher que amava outras mulheres

Maria tinha a pela clara
tão clara que beirava a transparência
por seu corpo atravessavam turbilhões, ventanias fortes e homens
No seu corpo passavam os olhos, as bocas, a fome
o ódio, o desejo, a brutalidade
passavam as mãos desenhando a mulher que ela deveria ser
moldando sua pouca solidez como bem os convinha

Maria olhava no espelho e não conseguia se ver
a falta de cor que estampava o corpo também denunciava a lacuna de sua existência
nunca havia ouvido voz de amor.
E também se sentia errada. Nunca soubera o que era estar correta.
Todos os dias, todas as horas, lhe era dito o quão errado era ser quem era
Não és a mulher que deves ser. E sendo assim,
ser tão suja
tão abominável
tão pecaminosa
é errado gostar de ser assim.
É ainda mais errado amar quem é como ti.

As vozes que lhe percorriam o corpo
arrastavam, em sua trajetória fugaz, partes dela
as vezes eram buracos nas mãos, nos braços
quase sempre lhe faltavam as pernas
o pescoço vivia marcado pela falta do que os homens lhe roubavam

E, apesar da rapidez em que passavam
deixavam cravado nas partes restantes
em cinza
todas as sombras de quem ela deveriam ser
Ecoando: sua sujeira, seu erro, sua pequenez


Maria tremia
e já era um bambear tão comum às pernas que passava desapercebido.
Não era frio
(o que até poderia ser, com o pouco do corpo que lhe restara para si)
Era medo.


Ao encarar-se no espelho, maria tinha medo.
Medo de quem poderia ser. Medo de seus erros, medo de suas cores.
Maria tinha medo do que, por descuido, poderia surgir no espelho

Medo de ver completa.
Medo de ser.
Medo de não ser.
Medo da explosão.

A imagem projetada pelo vidro não tremia
e como poderia?
de dentro do vidro, esqueceu-se de ser menos que humana
as pernas, esqueceram-se de bambear. O chão parecia mais firme.
A estabilidade foi tanta que a imagem - desta vez a de fora do vidro - não aguentou
BRA
quebrou-se
Desmanchou-se em mil pedaços a transparência de maria.

De repente, viu-se toda uma existência.
Ao explodir, gerou uma luz forte
tão forte que, no primeiro momento, cegou.
Cegou para restaurar nova visão.


Os restaurados olhos de maria, ao exergarem o mundo, dessa vez esqueceram as lentes do medo
Foi choque instantâneo, o fato de poder olhar e reconhecer-se
O que maria nao sabia mais era como odiar-se.
Percebeu, reparou. Era ela. E podia ser.
E amava ser.
Era Mulher. Era Maria.


Seu corpo, agora sólido, firme, estendia-se pelo mundo
saiu do espelho para ocupar toda uma existência.
Era Maria.
Seu corpo, pintado de todas as cores, denunciava-lhe.
Era Maria: mulher.
Era mulher e não tinha medo.
Era mulher e amava
Era mulher e amava outras mulheres.
Era mulher e amava-se.