Olá

Bem vindo a partes de mim



domingo, 27 de novembro de 2016

é difícil reacreditar no amor. Mais difícil ainda, penso eu, por ser o curso natural da vida, por ser o mais comum à trajetória. Dói ver que o amor, mesmo quando morre, quando fura, quando maltrata, renasce, floresce, arruma jeito de ser reeguer. E então sua dor já nem é tão sua assim, porque isso também passa, e mesmo você, que se via tão aprisionada ao sofrimento, que havia feito nele a morada e o ninho que iriam te proteger de futuras desilusões, mais uma vez se vê caminhando. Porque o que dói não é o fim do amor, o tiro certeiro que atinge o coração; o que machuca é ver o sentimento morto ao chão, depois de tanto cambalear sangrando. O que nos devasta não é sua morte, nem o luto, é o que acontece depois da morte, aliás. Retira-se o corpo, limpam as manchas de sangue, abrem de novo o trânsito. Pronto, já esta estabelecida a normalidade na salgado filho ao meio dia da segunda feira, sem memória, marca ou sinal que denuncie minimamente a tragédia da madrugada anterior.

é dia, a vida segue, e é isso o que mais dói.

sábado, 26 de novembro de 2016

solidão
as vezes nem é caminhar na rua sozinho
é quando a gente tropeça
naquela pedra enorme que esqueceram de avisar
machuca muito
mas você não fala nada
não quer incomodar ninguém

tropeça e quase cai
mas era o último da fila e ninguém viu
segue andando
o barulho do pedregulho rolando
já some em meio as conversas 

ninguém viu
a rua continua cheia
ainda te esperam
e, rindo, te mandam apressar o passo

seu pé dói muito
e só você sabe


domingo, 13 de novembro de 2016

oração ao tempo

sem medo. sem pressa.
oração à lua

agradeço por iluminar os novos tempos
por rasgar a noite escura
com a ferocidade que não víamos há 70 anos

por me fazer ver
em meio ao caos.
por trazer fôlego


respiro. sei que ressurges.
olho o céu e tenho calma
não preciso mais temer a ausência do sol
eu sei que a lua também me acolhe
e conforta


peço: se um dia puder ousar
que me ensine a renascer com tuas fases
a iluminar mesmo após o fim da esperança
a não ter medo de ressurgir



quarta-feira, 19 de outubro de 2016

escorreu

a última gota de suor descia por cima da sobrancelha. Eu limpei o rosto com cuidado, depois passei a mão na blusa, já sem tanto cuidado assim. Olhei ao redor, peguei com a mão já seca, mas ainda úmida, o parapeito da janela que me apontava o horizonte lá fora. Era aproximadamente meio dia, mas o sol não castiga essas terras como castiga as minhas, lá de onde venho, o sol a esta altura é inconfundível. Aqui, talvez também pelas árvores, ou pelo canto dos pássaros que  - não necessariamente aliviam o calor, mas distraem o coração -, o sol parece muito mais ameno, e o dia ter ar de quem esta ainda (e sempre) nascendo.

A terra batida na minha terra gostamos de chamar por terreiro, e aí cada um cuida do seu, já é a frase seguinte no ditado popular. Os becos estreitos desse terreiro me lembram os becos estreitos das casas da infância, o cheiro de goiaba, ainda que por aqui não haja nenhum pé destes, as galinhas correndo, a voz que chama da cozinha. Os becos estreitos dessa casa me lembram as finas veredas do sertão, com seus mistérios e descaminhos, que ainda são poucos se comparados às veredas do nosso coração, cheio de suas paixões e dores.

O rio do tempo invadiu a casa, escorreu tal qual meu suor, molhando o piso barulhento de madeira. Nos colocando para nadar, inundando tudo que é firme e criando redemoinhos no centro de cada uma.

Dançamos no ritmo do ar, e o sopro que sai de cada uma preenche o ambiente até tocar nas outras, até formar a doce sinfonia que é dádiva de não estar só.

É o sentir-se em casa, é onde a alma lava os pés. Respirar o verde, sentir o corpo, abraçar o chão. É para aguentar a existência, Arte, quando resiste em nós, qual passarinho adormecido que desperta, quando levanta já é cantando (e batendo asa!).



escorreu
a última gota de suor
do meu corpo

escorreu
a última lágrima
do nosso rio
do tempo

escorri
pelas paredes.
o corpo pesado e frio
parecia outro
de tão delicado que caía ao chão

a morte as vezes nos faz leve
demais

não havia motivo para alarde
nem gritaria, ou choros
não se acendeu uma vela sequer

eu fui caindo e morrendo aos seus pés
silenciosa como uma virgem
juntando meu choro miúdo
ao som ambiente
para que você nem mesmo
ouvisse minha voz
afinal
ela nunca esteve aqui

não tem pra quê isso
o que morreu a boca do passado já engoliu
e regurgitou
e engoliu de novo.
Não se pode matar o que esta morto.

Por isso que
dessa vez,só escorreu
escorreu meu suor pelo chão de madeira
escorreu minha lágrima lavando teu pé
escorreu a gota que fecha a torneira do tempo

doeu mais uma vez
porque sempre dói

mas a morte, ainda bem!
só só se morre uma vez



quarta-feira, 12 de outubro de 2016

o amor escorre
o amor, ele
t r a n s b o r d a

nunca coube
não cabe em vaso de planta
nem em mala de viagens
o amor, não cabe no caminhão
de mudanças
não cabe nas gavetas do armário antigo
nem mesmo na cristaleira de vovó, que eu
devia ter tanto cuidado

o amor esbarrota tudo que é canto
não cabe nos álbuns, por vezes
extrapola até nas fotografias

o amor não enquadra
não serve para ser
l i m i t a d o

não cabe em mim
não cabe em você.
não cabe nem mesmo
no infinito entre eu-você
que se desenha em nossas bocas

o amor ainda saberá ser maior
que todas as fantasias
mais variado que a aquarela
que pintei entre seus seios por volta de
março
ou fevereiro, tanto faz
o amor também não cabe no calendário

porque é amor
e ele parece as gotas de tinta que espalham no pincel

o amor ele
t r a n s b o r d a
os potinhos de água de nossos corações
ele e x t r a v a z a os caminhos da vida
o amor, ele
e t e r n i z a

quando não cabendo,
nem mesmo no tempo
ele decide ser as cores
do mundo



segunda-feira, 10 de outubro de 2016

eu acreditava que não iria escrever sobre você.
acreditava que nessa mentira, mesmo sabendo
o quão minha existência é condicionada a isso

eu preferi acreditar que nunca haveria um verso sequer
mesmo com os dias passando e as horas se alongando
mesmo com o carinho crescendo e a vontade também

mas acontece que os versos não ditos ainda arrumam jeito de existir
em alguma realidade suspensa entre os encontros de tempo e espaço
penduram-se nas finas linhas do acaso, escondendo-se do propósito

elas arrumam um jeito de cravar os dentes na gente
as palavras que nunca disse nem chegarei a dizer
flutuarão por ai, hão de achar caminho junto a ti

porque eu não posso dizer o que quero dizer
não posso tornar real o que não pode ser

é por isso que não haverá escrita sobre você.
mas haverá sobre uma poesia em que tive
particular cuidado com a métrica

durante a madrugada,
duas pessoas cruzarão a salgado filho
segurando o vinho em uma das mãos
e tudo o que não se descreve na outra

cultivarei o hábito de fumar cigarros
não por mim, nem pelo estresse
unicamente para dividi-los
no estacionamento vazio
enquanto escrevo
poemas mentais

Ainda, lerei mulheres
pesquisarei sobre suas vidas
e pensarei como seria amá-las
regando a bruta flor da juventude
colhendo a flor mais bruta ainda
que é a dos quereres insaciáveis


terça-feira, 4 de outubro de 2016

je suis le temps
a vida vai em círculos 
e eu sou vó parar quando tudo acabar


domingo, 18 de setembro de 2016

eu acho que senti que você iria. Hoje passei dirigindo a 60 km/h por sua rua. Mesmo assim, aquele segundo que olhei pareceu uma eternidade. Eu quase mudo o caminho e vou parar aí. Não fui, sensata. Não é mais hora.

Passei pelo café, na volta, ainda a 60. Talvez até mais rápido, dessa vez. Outro segundo eterno. Olhei para a varanda e haviam duas pessoas conversando, bebendo café, mexendo nas tampas dos copos. Mas o que eu vi foi a gente, meu nervosismo que destruído duas tampas e um copo, sua calma de quem sabia abafar bem a euforia interna. Só que eram outras pessoas conversando. Fazia um tempo já que não era a gente ali naquelas cadeiras a decorar as luzes da cidade para nos referirmos em poemas.
Faz dias que não paro de pensar no seu corpo, no seu gosto, na sua pele. Faz tempo que tu nçao sai de mim, menina. Nunca saiu. Nesses dias tenho chegado a conclusão que a música da nossa história é crazy in love. Não só pela magnífica performance que você fazia dessa música entrecortada pelos seus gemidos quando nos amávamos por toda a noite. Mas também esse amor nos deixou envoltas em algum tipo de magia forte que nos absorve e nos enlouquece. Criamos nosso mundo, nosso fogo, nossa paixão. Rasgamos as regras, os caminhos, os códigos, os planos. Nós tocamos fogo nos navios e decidimos ficar na ilha deserta. Não queríamos resgate. Nunca quisemos.

Fui eu que deixei a ilha. Uma dia você acordou e eu tinha feito uma jangada improvisada e jogado ao mar -  todo mundo que olhava a cena via que era impossível sobreviver daquilo. Todo mundo já tinha visto que aquilo iria simplesmente naufragar. Você, teimosa, ainda quis ir atrás. Pegou o que pode ao redor e construiu algo muito mais improvisado e ainda assim muito melhor que o meu, jogou nas águas e foi ao meu resgate. Não adiantou, nunca adiantaria, meu bem. Não era isso que eu queria. Não era ser salva, acho que não tenho maturidade para isso. Eu precisava ver as ondas quebrando meu barco e me engolindo ao final, era o que tentava te dizer quando a onda engoliu a nós duas.
Eu recobrei o fôlego antes (a história que nunca conto é que era razoavelmente boa na natação), você agonizou até encontrar a superfície. Estávamos perdidas. Nem ilha, nem barco, nem nós. Era tudo chão de água e a distância era a única linguagem que conhecíamos. Eu nadei, você também. Ninguém sabe pra onde. Quem queria achar a ilha de volta? Quem iria se arriscar no desconhecido do mar na volta para a civilização?

De início, as braçadas eram apenas para preencher o tempo e acordar o corpo, nem mesmo sabíamos em que direção estávamos indo. Mais perto ou mais longe? Em direção ao desconhecido ou ao lar? Era tudo acaso e caos. Eu e você girando em círculos dentro mar, enquanto a correnteza magnética dos corpos apaixonados nos sugava. Você ia, eu vinha, eu ia você voltava. Tudo era caos, porque no mundo das águas não há espaço para erros.

O nado nos levou mais longe, cada vez mais. Você desistiu de caçar sereias e reinos mágicos debaixo da água -  não há escapatória, não há terceira opção. É lha ou mar. Você sabia melhor do que eu, sempre foi mais atrevida e, mesmo que não admita, gosta de ousar mesmo sem nenhuma firmeza sob seus pés. Ao se ver perdida na imensidão do mar, olhando por todos os lados sem conseguir me ver, decidiu, sabiamente, se jogar contra a correnteza, se arriscar a passar de onde as ondas quebram. Tomando o maior fôlego da sua vida, se preparando para a grande passagem, torceu pela última vez para me encontrar do outro lado. Meus gritos, aqueles que você ouvia os ecos, no meio da noite, diziam para ir, se libertar de vez. E você foi. Porque você sempre vai. Você sempre me surpreende fazendo justamente o que mais admiro, ouvindo e confiando. Você é a pessoa que vai. Como naquele dia, em que te mandei beijar outra mulher, torcendo para que não beijasse, eu te mandei ir, torcendo para que não fosse, ainda que no fundo. Mas você foi, porque você é boa nisso de ser independente. Você é realmente um poço de bravura. E por mais que isso tenha doído, é o que amo em você. Porque você é o meu passarinho, e sempre vai alçar voos mas longos do que eu poderia imaginar.

Passarinho não é bicho de mar, meu amor. Do teu fôlego, quando emergiu, correu direto pro céu. Lá, tuas asas abriram e você pode então enxergar todo o mar, descobrir o desconhecido e voar até terra firme. Isso é bom. É lindo.

Eu havia ficado, batendo a cauda dentro d'água, criando as ondas fortes que te expulsaram para o céu. Eu sempre quis te ver voar. Eu acabei ficando fraca, meu amor. Acabei cansando demais na natação, enquanto ainda girávamos dentro do mar. E acredto que nunca conseguirei sair daqui, sabe? é minha casa. Eu me fundi nesse mar porque precisava aprender que eu sou como ele. Eu precisava disso. E agora eu sei que eu estou cansada e sem forças para continuar a trajetória. Você sabe que eu sempre gostei pouco de terra, ainda mais das desconhecidas. Por isso que eu fiquei. Depois que te vi linda la no céu, juntei meu poucos esforços e voltei nadando para casa. A ilha me acolheu quase tão bem quanto antes. Mas na verdade essa parte é mentira. Eu voltei para a ilha e aqui dói sem você. Dói porque eu não sei construir casa e sou "maluvida" pra fugir do sol, sempre acabo queimando os ombros.

Eu estou na ilha, meu amor. Porque eu preciso dessa solidão para aprender a amar, da mesma forma que você precisa do céu para desbravar. Nós somos náufragas duas vezes e em nenhuma delas tivemos resgate, saímos dessa sozinhas, e tenho orgulho disso. Nós caímos no amor e na vida, como poderia dizer qualquer poesia bem feita. Nós estamos aí para sermos testemunhas de amor verdadeiro e liberdade de ser.

Continue voando, passarinho. Sempre que der, passe para cantar pela ilha, ela se enche com tua voz (e sente tua falta!). Eu cuidarei de tudo que puder por aqui, inclusive de mim mesma. Serei(a) forte.

Vai ficar tudo bem.

DEIXAR VOCÊ IR

tem doído.

segunda-feira, 12 de setembro de 2016

eu poderia amar menos
dizem que eu não consigo evitar me apaixonar
dizem que eu preciso de tempo
de espaço

eu deveria amar menos
sentir menos
me apaixonar menos

mas acontece que eu sou poeta
e quando penso nisso
todo o resto se esvai

eu poderia ser um pouco menos de tudo
dar menos chances ao acaso
chorar menos por coração partido

mas acontece que eu sou poesia
e é por isso
que meu pássaro azul
não sabe viver em gaiolas

sexta-feira, 9 de setembro de 2016

você
me rasga
a pele
existe um poema a ser dito
um poema que ainda não disse.

existe algo de nós
que ainda não existiu

tem algo para ser dito
entre eu e você
que ainda não foi dito

existe um beijo
entre nós

existe um amor entre nós
que ainda não foi vivido

quinta-feira, 25 de agosto de 2016

não sei de que forma
você me atinge.
Mas sempre o faz.
Você sacode tudo aqui dentro.
Você é algo que eu nunca soube explicar.
Mas você existe.
Fora da caixa, querendo ser ela.
Você extravasa

eu não sei de que forma
você bate aqui dentro
meu bem, admiro sua coragem. Cada dia mais vejo te admiro. Hoje, percebo o quão difícil deve ter sido difícil me deixar ir, ceder tambpem o protagonismo, me deixar brilhar, e ver brilho em outras pessoas também, mesmo sabendo desse amor tão nosso. Tu é o sentimento genuíno que habita em mim. O amor quando é só amor e nada mais, e por isso sabe ser entrega, respeito, cumplicidade, afeto, carinho, cuidado. A gente se entende, meu amor. Acho que talvez estejamos destinadas a ser assim, a nos compreendermos. Eu, entendendo tudo que você viveu há um tempo, agradeço por ter me deixado aprender essa lição ao meu tempo, e fico feliz de saber que soube esperar. Fico contente de te ver radiante, feliz, amando, sendo corajosa, sendo mais. Eu sei que você se orgulha de mim também, de alguma forma. Eu me orgulho da gente, por sermos o solo de algo tão lindo e puro que existe. Obrigada, meu amor, meu bem, por ser quem é. Te amo como pra quem é fácil amar. Fácil, mas não menos precioso. Alias, amo como para quem é natural e espontâneo amar. Somos amor leve. Somos companheirismo. Somos o futuro, o passado, o presente. Somos a mutação. Somos o entrar no mar de mãos dadas. Eu sei que você esta aqui, sempre estará. Você sabe que eu estou, sempre estarei. A gente se entende. A gente vê e partilha um mundo. Você é o porto. Eu sou o mar.
PO E SIA

por em si - mesma
trazer para perto
o outro
jogar o barco na correnteza
no desaguar traiçoeiro do coração

rimar é quase não ter medo
achar a rima além da métrica, é subversão
a gente quando se cansa de preencher caixa
rompe o horizonte
sendo quem se exatamente é

acho que somos mais
sinto que somos mais
e é por isso que somos

p o e s i a

é o nome que dão
pra magia de ser
gente

quinta-feira, 18 de agosto de 2016

QUEM ACOLHE A JUSTIÇA QUANDO O DIREITO FALHA?
o que é ser janari: é árvore que brota dentro do mar.

A origem da palavra remete aos indígenas, aos povos que primeiro habitaram, pisaram e alimentaram o solo brasileiro. Remete àquele que nasce. Deles nascendo, a palavra decidiu-se por abrigar o termo árvore, planta, raiz e floras. Janari, que é mais água que mulher, decidiu também que queria ser árvore que nascia dentro d'água, suas raizes desbraando os reinos inexplorados, enquanto recolhia de lá os nutrientes para fazer nascer flores nunca antes vistas - pois só ela sabia onde cavar tão profundo.
É uma árvore que tem dificuldades de escrever a própria história, embora saiba relatar como ninguém as de outros. Ela gosto é de ser marco, divisor, até semente do que virá. Gosta de mudar, provocar, fazer rugir tudo que há de bom no mundo. Essa mulher, que quase sempre é árvore, que tem por mania florescer, sem nem perceber, é mais poesia que letra solta. Ela nem vê seus movimentos marcando o ar por onde passa, mas a verdade é que seu sorriso crava feito ferradura na pele, queima, incendeia, deixa em chamas. Ela deixa por onde passa o rastro na noite seca. Ela é a nuvem fria de ar aconchegante que refresca o ser-tão. Ela é a besteira boa de se estar apaixonada, a despretenciosidade de quem sabe que vê mais do que determina. Ela sabe, como ninguém, a coisa boa que é exerguar o que não está implícito. Janari é a simplicidade, a calmaria, a bravura, a justiça, a risada, a leveza, a frimeza, a gratidão. É encontrar-se, por um momento - pelo menos enquanto encontra seus olhos, plena.

Eu, que nem gosto e falar de mim, que tenho medo de ser boa, sei que janari é o nome que fortalece quem veio dentro. Sei que sinto que sou um tanto bem maior. Janari, eu sei que tu é, mais até do que queria ser, uma criatura mágica. Retorne para si, se permita ver como te veem, a paz de quem está em par consigo mesmo, a vontade de fazer mais e ainda assim ser completo com o que se tem. Janari, poesia sem rima, mas com gosto, gosto de mulher.
Natal, 18 de agosto de 2016.

Amar é para quem é humano. Acho que é daí que surge a palavra. Eu sei que existe a filosofia, a ideia, a memória e a cidade. Mas as vezes, que eu é um quase sempre, eu desconfio que existe algo mai. Eu fico me perguntando qual é a partícula louca que se soltou nesse universo de energia e criou o sentimento. Eu fico me questionando quem foi de nós que teve a audácia de ser mais.

Hoje, fui ao CEDUC pela seilá qual vez. Diferente do peso que sempre ttrago de volta, hoje eu senti o peso de ser quem é errado. E isso dilacera a alma, às vezes até o corpo. É preciso que os Direitos Humanos, que a Educação, que qualuqer ciência que seja nos veja humanos. É preciso não esquecer quem existe e alegoriza o mundo. Somos humanos - seja lá o que isso signifique. Mas somos. E é ai que o bicho pega. Ás vezes a gente esquece disso, até querendo mesmo. Falta humanidade, falta carinho, falta cuidado. Não é aceitável a falta de afeto. E se resguardamos algo no direito, mesmo que um dia ele não sirva para mais nada, é preciso que ele ainda se ouse a defender a dignidade, a humanidade, a felicidade. É preciso que o direito nos assegure de ser aquilo que somos: humanos.
ABRAÇO

minha poesia hoje se fez abraço
porque é só assim que eu vejo o mundo

quando me ponto a enxergar
é porque quero ver
sempre que digo
já é querendo falar

toda vez que me pono a existir
seja em qual for o mundo
só quero sê-lo
se for para abraça-lo
acho que não sei ser
menos que humana

não sei ser menos
que uma pupila dilatada
que o amor quando nos preenche
o peito

toda vez que me faço gente
é sabendo ver o no outro
gente também

e nunca que sei amar de metade.
amor pra mim só presta
se for de peito

de peito aberto,
de peito jogado
de peito esbaforido

amor é como quem dança
e quem dança já é como quem existe
quem resiste, então
é ainda mais

toda vez que abraço
é dizendo: cuide de ti
cuide de ti como queria eu cuidar
e te cuido
de lado do cá do peito

toda vez que te enxergo
já é dizendo
como quem recita cantiga antiga
te vejo

tu és para mim como quem re-existe no mundo
te abraço
e te sinto por inteira
e te integro a mim
e te acolho

pois no universo de mim
só existe um eu
quando consigo ver vocês
e só quero ocupar o mundo
enquanto puder defender todos os que existem
dentro
e fora
de mim.

ABRAÇO
te chamo para perto
te trago para mim
e te
ama.

quarta-feira, 17 de agosto de 2016

oi. Hoje eu te vi. Essa poesia só vai ao ar por mania de jogar ao vento palavra. Nem vai ser poesia, aliás, precisava te dizer isso. Você é linda, é o que precisava dizer. Que admiro seu corpo, seu olhos, sua boca, seu cheiro. Hoje mesmo, não muito tempo atrás, eu me perguntava, no auge da minha falta de contraste, se um dia conseguiria me ver apaixonada por alguém, sou se tinha chegado àquele momento trágico da vida em que paramos de ser montanha russa. Olha, que besteira, eu cogitando se conseguia me ver imersa em paixão novamente, logo eu. Mas hoje eu vi uma foto tua. Agorinha, que me bateu uma saudade doida de você, eu vi uma foto tua e comecei a sorris feito boba. Um sorriso que só nasceu, sabe? Hoje eu também li uma poesia que falava sobre dizer. Pra mim, que gosto sempre de dizer, que me vejo enquanto uma "dizedora" profissional, falava sobre tudo o que jogamos pro universo sem pedir resposta. Dizer pra mim sempre foi entrega, não que queremos ter, mas à nossa própria coragem de admitir o que já temos. Jogamos para fora sem pedir que venha algo pra dentro, só confiando naquilo que existe, que enraizado, continua verdade, mesmo do outro lado. E nisso eu pensei também que tem amor que é um dito. Tem amor que só existe, jogamos pro universo, emanamos daqui sem esperar que tu respondas daí. E eu acho que isso é o bonito, sabe? é quando a gente não tem medo de sentir por alguém coisa boa. Você, que acho linda, em quem leio poesia, percebo que quero bem. Quero te quero um bem danado, emanando do meu corpo todo, causando arrepio. Talvez seja isso que seja estar apaixonada, embora eu nem ligue mais, só sentir isso já me dá a certeza de que não estou morta do lado de baixo da epiderme, e é o suficiente. Obrigada por isso também, dentre tantas outras coisas. Você me ensina muito, até quando sou eu que me ensino através e você. Pois então é isso, fique bem. Fique bem mesmo. Você merece a felicidade (mais uma das milhares de frases que ensaiei em te dizer e nunca disse). Você merece a felicidade.

terça-feira, 9 de agosto de 2016

as outras bocas não enchem a minha
como a tua.
não existe companhia mais agradável
aos meus ouvidos
que o som da tua risada
(mesmo aquela que outrora me deixava irritada)
não há nada que preencha
o vazio de não te ver
nem mesmo as lembranças
que saltitam na minha mente
a cada passou que dou

"aqui estivemos deitadas a olhar o céu"
"foi nesse tom de laranja que teu olhou me raptou"
"outro dia, a esta hora, estávamos nos amando"

em algum momento, todos os dias
eu sei que tu virás me visitar
ainda que incerto o modo
de alguma forma sempre me alcanças
seja correndo, caminhando
ou respirando
chego a sentir teus sussurro ao pé do ouvido
teus lábios repousando nos meus
lembra quando eu te disse que eles marcavam?
desde o primeiro toque
os teus ficaram impressos sobre os meus
os sinto
os renovo
os saúdo
todo dia, em homenagem a ti

futuro bambo
caminho torto
linha tênue

não há certeza
quando o solo é caos

talvez um dia
quem sabe nunca
com certeza, agora

cruzando as trincheiras
campo aberto
peito fraco
olho para os lados a procura de sobreviventes
não há.
Foi tudo bombardeado
mesmo assim
quando busco refúgio
teu rosto é o único
a me encarar
do outro lado da solidão


segunda-feira, 1 de agosto de 2016

a nossa caminhada fazemos sós.

sábado, 30 de julho de 2016

Passei o dia fugindo e você. Me esgueirando pelas paredes, rastejando no escuro, olhando por cima do ombro. Morri de medo de que, virando uma rua, desavisada, eu esbarrasse contigo. E mesmo assim, a energia pulsante de nossos corpos nos carregam ao mesmo lugar em mesmo tempo, como sempre fez. A gente cultivou essa mania meio louca de se conectar com o campo energético uma da outra (ou seria assim todos os seres apaixonados espalhados pelo mundo?).

Afinal, quando amamos alguém, é físico, químico, energético ou social? Nos apaixonamos pela energia que o outro transmite, pelo cheio que nosso instinto de sobrevivência caça, pela estrutura corporal que o acasalamento nos exige ou escolhemos socialmente a quem amar? é um encontro do destino coordenador dessa dança ou é nossa racionalidade mais forte que nunca?

O amar é fruto de qual deus? Seria afrodite baixando sobre nós sua benção pelo prazer ou iemanja nos convidando a mergulhar no mar? Amor, desse de quatro letras, quando sentimos, surge de quem?

Ou seria o não saber explicar a razão suficiente para considera-mo-lo o mas sábio dos sentimentos e, por isso mesmo, aquele a qual nunca deixamos de dar ouvidos? 

Ainda são seus lábios, depois de toda a razão
ainda são teus abraços, depois de toda a arte
ainda são teus seios, depois da ciência
ainda são nossas mãos juntas, depois da poesia
ainda são nossos olhos, depois da tempestade

sinto que te amo. Mesmo sem entender muito bem o porquê, nem só o quê. Sinto que te amo, de um jeito atrevido de amar. 

Vamos aguardar no tempo a hora da nossa história. Te ama, sem destino ou pretensão. 

domingo, 24 de julho de 2016

É pra recordar o dia. Quando sorriso cabe no mar? E quantos entre nós?

Corre na areia. Pula na água. Bebe cerveja. Ri de quem passa, ri do passado. Fotografa. É fotografada (letra também faz foto e meu olhos as guardam). Corre. Ri. Vinho vinil. Vinil de MPB. Mulher. Livro. Poesia. Lotado, apertado. Esbarrotando poesia. Ela riu. Eu ri também. Gargalhamos. Eu guardei a foto mais uma vez. E quando nos despedimos, nem sei se percebeu, mas eu guardei um pouco do cheiro dela em mim. O que pude, trouxe nas mãos. O que não deu, vou tentar lembrar. Que risada linda de fazer bem. Que olhos crueis de me apaixonar. Que atmosfera propícia. Tenho dito: não se junta praia com cerveja, vinho com vinil sem segunda intenções. Aliás, mesmo que ela não tivesse, meu coração vendo aquilo caiu na hora.

eu acho que tô ficando é louca. Ela sabe que habita aqui coração? pois se souber, vai devagar que ele é doidinho. Vai devagar, mulher! Depois não reclama quando eu me apaixonar

sexta-feira, 22 de julho de 2016

nós podemos parecer o trânsito
a avenida parada
ou, aliás
pareceríamos melhor
se fossemos a avenida vazia

naquelas frias horas da madrugada
em que a cidade ganha ares boêmios
nós seríamos os carros
que quase se esbarram
na contra mão

rápidos, em outras rotas
ou indo a lugar nenhum
eles se cruzam
rompendo o silêncio
da noite

por alguns segundos
(ou seria mais?)
seus faróis se esbarram
no mesmo ponto
de luz

os carros passam
deixam na avenida apenas o barulho
do ar cortado

somos nós atravessando a pista
com a garrafa de vinho na mão
sabendo que em breve seguiremos
na contra-mão


domingo, 10 de julho de 2016

o ir e vir da gente

tem horas que a gente decide se ausentar
decide ir como quem não quer voltar
se ilude que podemos não ser
quem somos

a gente acha que não estando presente
a gente não percebe o estrago
não nota a parede caindo
o reboco corroendo
a gente até consegue fechar os olhos pro mofo que se acumula

quando a gente sai de casa a gente acha que nunca vai voltar
mas ai chega a noite
no frio, a gente retorna quase sem querer
os pés que caçam o chão
buscam o único porto de qual guardam memórias
e lá estamos nós

de novo
fronte a fronte
com nós

assustamos com a aparência
com o cheiro da casa
não é aconchegante
na verdade, nos perguntamos se poderia vivalma respirar ali
e nos lembramos: não pode
mas não tem pra onde correr

e aí começa o trabalho
faxina pesada, sabe?
daquelas que precisa de luva e máscara
choramos, recordamos
descobrimos no entulho
coisas que nunca pensávamos estar lá
damos falta por tantas outras
mas prosseguimos

e nisso, o caminho se abre
esse texto por exemplo,
já á talvez a quinta vez que penso por abandona-lo
agora mesmo que faltou o ar
e prossigo, porque olho pro lado
e só vejo eu
pra chamar mais gente preciso antes habitar o lar

e vou

a faxina pode não acabar hoje
mas limpo a casa
quero um dia receber visitas
mas que não sejam as minhas
pois eu
quero morar

sexta-feira, 8 de julho de 2016

Gratidão

Ao universo, em si próprio
por sua imensidão de amor
que cria-turas mágicas em seu seio
criações de você

tu, o fruto da beleza de todo o universo
só pode ser o parto mais lindo e sem dores
que as energias fluentes da atmosfera
foram capazes de ter

emergiu da luz
condensa em si
todo o brilho de estrela
que deu origem aos demais

eu sou grata
não só por ter conhecido o universo de tua boca
pelos teus olhos
mas tão somente por tê-lo ao meu lado todos os dias
você é tudo de bom que existe no universo
juntinho num só ser

o melhor jeito de conhecer um mundo
é quando ele é te ensinado por uma criança
e a maior dádiva
de minha vida
é ter aprendido a andar com uma criança
que me mostrou que os moinhos são, na verdade, dragões
que as nuvens não são ar
são algodão doce
que a maldade é mentira
e que se machucar é só dar beijinho
que sara

o melhor presente do universo
foi ter criado um todinho
e me dado de presente pr'eu cuidar

ORAÇÃO

é que peço,
se tu me permitir
um dia ser universo
que nem você.

segunda-feira, 4 de julho de 2016

o olhos dela me arrastavam pra dentro. Faz algumas horas que estou parada olhando para eles e procurando alguma palavra exata que venha a registrar mesmo que minimamente o que eles causam em mim. Parecem duas ondas, me arrastando da areia e levando ao mar; parecem também que dentro dessas ondas existem cipós, que me amarram, me envolvem, me enlaçam. E não soltam.  São castanhos escuros, de uma escuridão que remete ao azul.
Aquele azul calmo e silencioso, misterioso, para dizer melhor. O azul gélido que queima, penetrando na gente. 

Ela parecia o mar. Naqueles dias que você consegue ver nitidamente a transição das cores da água, relatando a profundidade alcançada. Eu aqui, imóvel diante dela, parecia um animal indefeso, daqueles que fingem morte quando não querem ser predados. Assim eu ficava e ficaria mais muitas horas, se possível fosse. Se por algum motivo as divindades achassem que merecíamos sua benção de agarrar o tempo e estendê-lo por esse instante.

Parecia que faltavam as palavras, fugiam até mesmo os ruídos que minha boca poderia fazer. Nenhum balbucio de sílabas seria suficiente diante dessa cena. Nada mais importava. nada mais era digno de ocupar espaço entre nós, ou encher nossos ouvidos, que não fosse nossa própria respiração ofegante de quem vê o mar pela primeira vez. Isso e o meu coração, não vamos esquecer dele, meu coração rugia feroz, com fome, com sede, querendo desvendar o bicho na sua frente. Parecia um leão preocupado com o território, cheirava, gritava, andava em círculos ao redor do inimigo, esperando o momento de ataca-lo, de sobrepor seu corpo por cima do outro corpo e reconhecer ali quem afronta suas fronteiras.

Eu suava nas mãos, que já sentiam falta do corpo que ainda nem havia tocado, de tanto que ele já parecia a extensão do meu. Sentiam a falta, veja só! Eles notavam a ausência daquela pele enroscada na minha pele, sentiam o frio de saber que o calor está próximo mas ainda não aqui. Minhas mãos queriam passear por ela, descobrir as curvas, notar o formato, decorar a textura... Queriam descobrir em qual canto, qual esquina daquele corpo resguardava o nascedouro e toda a poesia.

Eu queria desvendar o mundo por baixo das roupas dela. Queria saber sua história, seus risos, suas cócegas, seus prazeres. Eu queria saber quem era mulher dentro da mulher, quem era a força onipotente por trás daqueles olhos. Ela era um universo à parte que me chamava pra dançar. Mas fazia isso tudo em silencio. Ela falava 4 línguas com o corpo e eu só queria uma delas correndo por minha pele.

Ela era um caos. Uma confusão maior que a minha, maior que as que eu já tinha visitado. Era o big bang pulverizando o céu antes de originar os planetas. E eu queria ficar pra depois da explosão. Aliás, se me permite, eu queria testemunhar a explosão. Eu queria ser a pólvora, queria ser a chama, queria ser a fumaça que abriga o fogo.

Eu queria tanta coisa mas diante dela eu só sabia querer. Eu não sabia sequer rasgar o ar entre nós com gestos que a trouxessem pra perto. 
Ela era um amor que vivia dentro da minha cabeça. Ela era o amor que eu tinha à minha frente (e ao lado, e acima, e por trás, e por dentro) sem saber mexer. 

Eu olhei por dentro dos olhos dela, pulando qualquer porteira que insistisse em me manter do lado de fora, desejei com toda a força do mundo que ela soubesse ler pensamentos só por esse momento, para que eu pudesse dizer a essa mulher - da forma que ainda não se sabe botar em palavras - o maremoto que ela causa aqui dentro.
INCONCLUSO

nosso amor
andou na linha do trem
esperando a página virar
e chegar ao ponto final

eu digo que o ponto andou pra trás
ou o amor tropeçou
e caiu da linha
antes do tempo?

eu digo que nosso amor
desvia do ponto
fazendo estripulia
pra não chegar ao final?

o inconcluso
é a paixão
é sua língua queimando dentro da minha boca

é eu arrastar os dedos cobrindo seu rosto
decorando os sinais, os vestígios
cavando pra saber em qual dessas linhas
nasce a poesia dentro de ti

inconcluso
deixe em aberto o destino
que em qualquer hora eu venho buscar
respostas
dentro dos teus lábios
salgados

pra fazer o céu parar de rodar
é só a cabeça começar a rodopiar
na mesma frequência que dança
o universo

meu verso descabido
geralmente abre o caminho
que meu peito havia fechado para ti

se me comunico nas frases
que parecem cortadas
é pra te mostrar
que nem sempre
o pé da vida
vai até o fim

pra meu coração ganhar cor
é preciso pintar com tinta
tinta de lápis, de pincel, de olho
é preciso extrair da dor
toda a cor
que couber na imensidão
do mar
do seu olhar
do respirar

pra abraçar o mundo
é preciso antes
acalentar a si
se envolver nos braços da terra

pra firmar o pé no chão
primeiro é preciso descalça-los
é preciso se certificar
de que esticou os dedos
que neles entrou terra, chão, firmeza
que neles entrou certeza
que neles entrou um ser
que neles entrou o mundo

pra chegar no infinito
tem que conhecer o tempo
brincar com ele
como quem dança bambolê

tem que estar além
porém,
aqui.

pra ter sonho
é preciso antes ser
sonho

pra correr é mundo
é preciso aprender a nadar

pro coração habitar
amor
é preciso antes ser
aquilo que queremos ver
é preciso colorir
é preciso ir
e ficar

pro amor existir
é só uma questão de espaço
quando mais você ocupa seu corpo
mais ele habita você
e com você,
um mundo todo.

domingo, 3 de julho de 2016

Amo ter alguém comigo, companhia, companheiro, companheira. Amo alguém pra rir da piada, do jeito que eu falo, das minhas comidas estranhas. A arte do encontro não se materializa em toda esquina. Nem sempre todo mundo quer falar da vida das libélulas e da sua mania estranha de pisar torto na infância. Amor é encontro e encontro é arte. Lembra sempre.

Da sequência de amores só faz pena não ter tido mais tempo pras recaídas. Não ter coisa mais gostosa que beijo de quem cai em tentação. Mas se, àquela hora, meu corpo tinha decidido ir, então é porque já era hora. Acredite na sua sabedoria.

Numa sociedade em que a felicidade é programada, não se furte de viver isso livremente com alguém. Não se furte de amar, de frio na barriga, de borboletas no estômago, de riso de nervoso. Não deixe de ser feliz, não escolha a solidão. Solidão já pesa demais aquelas impostas pela vida. De sua escolha, certifique-se de sempre escolher amor e companhia, felicidade partilhada.

Escolha sorrir, correr, amar. Viver nem é tão perigoso.
Tem que parar de não valorizar quem te ama.
Tem que dizer que ama. Disse já? Diz mais. Diz uma, duas, três, mil vezes.
Amar nunca vai ser demais.
resolve os problemas.
Resolve devagarzinho mas não deixa de resolver.

Diz que ama de novo.
Depois, faz café da manhã. Não almoço requentado, café da manhã mesmo
com fruta, tapioca, café e aquele gostinho especial
de recomeço
ah, não esquece de recomeçar
sempre que doer, apertar, magoar
não tem medo de pedir desculpa
nem de admitir erro
mas se perdoa também
não esquece que a gente se perdoa igual perdoa os outros

Cuida das pessoas
faz cházinho, cafuné, leva cobertor pra alma
beija o pescoço, as orelhas
os lábios com cuidado e intensidade
faz rir
faz pipoca
e chocolate
mas deixa ser cuidada
não esquece de ser mimada
e rir do mimo
agradecer
e dizer: volte
sempre


olha nos olhos, não esquece
tem cuidado e atenção
com todo mundo
primeira lição do amor

é ame
com os olhos
com os ouvidos
com a boca
com os abraços
com as palavras
com os sorrisos
com o amor
ama bem muito

até o dia raiar e raiar

quinta-feira, 30 de junho de 2016

me deixa rodopiar
perdida também é um caminho
deixar o caminho andar
enquanto nós vamos dançar 

terça-feira, 28 de junho de 2016

um dia eu vou ser mar
vou arrastar com minha força
a terra
o ar
o fogo
vou arrasar cidades
vou levar pessoas aos outros cantos do mundo

um dia eu vou ser mar
esquecer a dor
aprender sobre impermancência
que cada onda que quebra é finda
e recomeço de uma outra onda que ainda virá

um dia eu vou ser mar: origem de tudo
e então serei a gênese
também fim
de tudo que sou e que virei

eu serei a onda que abarca teu rosto
a marca cavada na areia
eu vou ser mar
e dentro de mim caberá um oceano
de sensações

quarta-feira, 22 de junho de 2016

ela parecia o mar
com suas ondas revoltosas
e a poética calmaria

seus olhos cativavam aquela estranha mania
que o mar tem de nos roubar de nós
nos guardar dentro de si
captar toda a atenção
nos tragar para dentro

não se perca por ai
sussurrava
com voz de criatura mística
que vive debaixo da superfície

não se perca por aí
era o barulho que as ondas faziam
se quebrando na praia
me lembrando que só existe um caminho

ela parecia oceano
que de dia encanta
e à noite assusta

por olhar dentro dela
e só ver a imensidão sem fim
a profundeza
no escuro da noite, assusta

ainda assim, o mar exala
não se perca por ai

tudo que é água acha seu caminho para o mar
tudo que deságua acha caminho no teu peito

ela parece o mar.
Eu pareço criança que vai à praia pela primeira vez:
diante da vastidão
esqueço até de ter medo

meu sonho é mergulhar
mesmo sabendo que hora ou outra o mar te cospe de volta
porque nele só faz morada
quem aprende a desbravar

domingo, 22 de maio de 2016

cada segundo badalava o peso de uma tonelada
meu coração, já meio que acostumado com as dores
parecia se rasgar duas vezes
nos mesmos lugares

é noite e eu ainda choro
implorando ao dia que raie,
que me limpe
que afaste o choro

nada mais tem sentido
no caminho que enxergo à minha frente só vejo marca de tiros de canhão
ferimentos tão profundos que a terra há de esperar anos para poder sarar
de todas as frontes, ataques
e seu coração que ainda se nega a se acostumar com esse mundo
à todas as frontes, só oferece flores.


segunda-feira, 9 de maio de 2016

fiquei as avessas
todo mundo estranhou

mas o que ninguem reparou
que nenhum olho viu
é que as avessas
é só outro nome
pra dizer
que a carne da gente ta pra fora do corpo
que agora somos gente
gente que sente

Doeu o primeiro tiro.
Não mais que o segundo, pois este veio para terminar de arregaçar as fronteiras de quem ainda relutava.
Das quedas que sofri, o que mais doía era a aspereza do chão. Era olhar meu corpo sangrando todas as vezes que me levantava. Um dia tive que ir, até por compaixão ao coitado do meu corpo que já não sabia mais por onde se doer.
Mas o complicado da cicatriz é que ela deixa marca.
Sabe como é né? Ela vai fundo. Você sabe, tanto quanto eu. O foda da cicatriz é que ela é parte da gente.

quinta-feira, 21 de abril de 2016

O samba da noite

o corpo jogado no sofá, aprisionado em sua própria solidão. Mas a mente sempre esquecida de ser una, e dividia-se em mundos e realidades diferentes, sempre fantasiando o gosto, o rosto, o sexo, a pele, o riso de outras vidas. A boca gostava da cerveja, mas hoje a noite pedia vinho, e ela, sendo da bondade que era, sempre concedia aos desejos noturnos.
Tinha medo do frio que lhe servia de cobertor, mas já não sabia como se desvencilhar dessa pele. E a sede das vidas continuava lhe corroendo, atravessando o corpo, a alma, buscando sempre um novo rio onde dar vazão. A sede doía aos ossos, badalando a mesma melodia, lhe chamando para ir ao mundo, se derramar, deflorar florestas virgens, correr os pés na areia inexplorada.
Nunca tinha ido. Ás vezes fazia que ia, mas no fim ficava. A língua parecia já saborear alguns gostos através de partículas trazidas pelo ar. Catava, à toda custa, e ainda assim à sorte, tragar pelo vento a essência do amor.
Mas era amor o que queria? Talvez nem fosse. Pelo menos não o amor como lhe diziam que deveria de ser. Sentia vontade era de criar coisa nova, de correr, de desbravar. Amor para ela tinha cores de outro nome. De certo que não era o que sentia agora - isto estava mais lá para melancolia -, mas um dia queria senti-lo.
Era pra cair no mundo. Tal qual as ladeiras de olinda, descer correndo seu coração no compasso do frevo! Ir sorrindo pela tarde azul, amarela e vermelha. Sem medo do que viesse, sem prisão que lhe pesasse os pés: só o calor do frevo subindo pelo corpo que se agita pela rua. Beijar a boca do acaso, rir do joelho ralado e beber a cerveja no copo do destino.
Quer fugir de que? Não sabe, e parece, pela velocidade da fumaça que escapa de seu cigarro, que também não deseja saber. Mas sabe que quer ir. O pé já se move sozinho, caçando pelo chão caminhos possíveis. Quer amar também, só não sabe a quem. Talvez a fuga e o amor sejam ponto de encontro de um alguém. Seja estrangeira ou si mesma.
Muda o cenário. O rosto que enfrenta no espelho usa o lábio cor carmim. O olho, qual a Vênus, não escolhe cor para definir-se, põe fantasia em tudo que lhe exija explicação. Escolhe a indecisão entre beber cerveja ou vinho, amanha vai ter ressaca, já sabe. Prefere ter certeza na ressaca que entre as bebidas. Vai de vale-ressaca mesmo. O cigarro que fuma é mais pros dedos que pro pulmão, mais pro charme que pra paciência. Quer atenção, mas não qualquer uma. Quer que algum olho desavisado lhe ache na estranheza, nas sombras, na quietude, lhe veja a fumar cigarro, revezar cerveja com vinho enquanto escreve poesia num bar. Quer que alguma mente por trás dos olhos desavisados saiba que ali encontrou certo tesouro muito difícil de achar, e que diante de tal descoberta, saiba se aproximar: não com interrogatórios, não com elogios, não com holofotes. Mas que saiba pedir vinho, bebericar sua cerveja sem pedir, ficar em silêncio, dizer pelo olhar. Quer alguém que saiba falar aquela língua que ela mesma inventou, que saiba se comunicar no mais ínfimo dos detalhes, que saiba dar significado e importância a tudo. Que não dependa de palavras para falar, mas que se precisar usa-las, saberá fazer sabiamente. Vai pedir alguém que tenha mais mistério nos olhos do que cabe entre o céu e terra; que tenha sorriso e o distribua pelo mundo.
Ela sabe que o amor tem gosto de flor e cheiro de terra molhada, numa tonalidade hortelã. Ela também sabe que só quem decifrar tal definição merece usa-la, seja para si ou para dedicar a outrem. Os pés querem descer pela Olinda, mas o coração ainda se agarra ao blues com vinho, à MPB com cerveja. Às vezes ela só quer café, e as mãos trocam a distração do cigarro pela firmeza de um livro. E ela sabe de tudo isso, mas quer alguém que saiba ler tudo isso também.
O frio passa, porque assim como a solidão, só se apega à quem não lhe apresenta resistência. Decide caminhar. Enquanto fazia sua cena demonstrando a silenciosa linguagem que sua alma falava, não encontrou ali leitor eficiente, então decidiu caminhar. Nem sempre o que se espera da noite acontece, nem sempre o queremos obter é suficiente. Às vezes, quando a noite chegava naquele discreto limbo entre um dia e o outro, Anita percebia que pouco importava quem a lesse ou não. Sua linguagem não era feita para quem a lia, mas tão somente marcava com símbolos o seu prazer em escrever através do corpo nas linhas invisíveis da vida.
A boca ainda era carmim. O corpo ainda era belo. O rosto ainda era firme. A não necessidade de leitura não anulava os olhos que a ainda a buscavam. Não era porque não sabiam ler que não tentavam.
Tentavam muito. Mas para Anita não fazia grande diferente. O prazer da dúvida ainda é mais gostoso que a certeza da ressaca.

segunda-feira, 28 de março de 2016

De amor não morremos

As veredas do coração nunca foram caminho fácil a se desbravar
se dividem mais que o esperado
se cruzam, entrecortam, se esbarram umas nas outras
formando um labirinto tanto tortuoso quanto mágico


O amor quase sempre me deixa inebriada
preciso confessar; não sou daquelas que dizem não
e todas as vezes que o amor me chamar, eu me sinto na obrigação de ir
não me culpe
faz tempo que assumi um compromisso muito forte ao qual não posso me desvincular: 
com meu coração.

e por isso, toda vez que o amor chama eu vou
sorrindo
amando
correndo
feito uma garotinha sem medo

Porque este eu aprendi a deixar na estrada, num canto
ou, quando o levo comigo, deixo bem guardado na bolsa
que é pra ele não se sentir dono e tentar interferir no caminho

não fui feita pra pouco
não fui feita pra metades
fui feita pra amor

e amores não foram feitos para serem questionados
foram feitos para serem vividos



A falta de amor dói.

A falta de amor dói, e não é pela ausência em si
é por tudo que de que se preenche esta

Não é como a falta de ar, que deixa os pulmões com fome
a falta de amor transborda de intolerância, de ódio, de maldade.
é a falta de cor.
Um cinza pesado de mais, que tenta arrancar as cores de quem as tem

A falta de amor é a lacuna de humanidade
é quando não conseguimos enxergar nos outros quem eles são - humanos


A falta de amor é tão cruel que mata quem a tem
ao mesmo tempo que a engana, diz o o problema são os outros.

Os problemas nunca são os outros. O problema é de quem não ama, de quem não tolera, de quem abomina, de quem exclui, de quem tem nojo.

O problema nunca vai ser o amor, mas sim a falta dele.



sábado, 5 de março de 2016

A mulher que amava outras mulheres

Maria tinha a pela clara
tão clara que beirava a transparência
por seu corpo atravessavam turbilhões, ventanias fortes e homens
No seu corpo passavam os olhos, as bocas, a fome
o ódio, o desejo, a brutalidade
passavam as mãos desenhando a mulher que ela deveria ser
moldando sua pouca solidez como bem os convinha

Maria olhava no espelho e não conseguia se ver
a falta de cor que estampava o corpo também denunciava a lacuna de sua existência
nunca havia ouvido voz de amor.
E também se sentia errada. Nunca soubera o que era estar correta.
Todos os dias, todas as horas, lhe era dito o quão errado era ser quem era
Não és a mulher que deves ser. E sendo assim,
ser tão suja
tão abominável
tão pecaminosa
é errado gostar de ser assim.
É ainda mais errado amar quem é como ti.

As vozes que lhe percorriam o corpo
arrastavam, em sua trajetória fugaz, partes dela
as vezes eram buracos nas mãos, nos braços
quase sempre lhe faltavam as pernas
o pescoço vivia marcado pela falta do que os homens lhe roubavam

E, apesar da rapidez em que passavam
deixavam cravado nas partes restantes
em cinza
todas as sombras de quem ela deveriam ser
Ecoando: sua sujeira, seu erro, sua pequenez


Maria tremia
e já era um bambear tão comum às pernas que passava desapercebido.
Não era frio
(o que até poderia ser, com o pouco do corpo que lhe restara para si)
Era medo.


Ao encarar-se no espelho, maria tinha medo.
Medo de quem poderia ser. Medo de seus erros, medo de suas cores.
Maria tinha medo do que, por descuido, poderia surgir no espelho

Medo de ver completa.
Medo de ser.
Medo de não ser.
Medo da explosão.

A imagem projetada pelo vidro não tremia
e como poderia?
de dentro do vidro, esqueceu-se de ser menos que humana
as pernas, esqueceram-se de bambear. O chão parecia mais firme.
A estabilidade foi tanta que a imagem - desta vez a de fora do vidro - não aguentou
BRA
quebrou-se
Desmanchou-se em mil pedaços a transparência de maria.

De repente, viu-se toda uma existência.
Ao explodir, gerou uma luz forte
tão forte que, no primeiro momento, cegou.
Cegou para restaurar nova visão.


Os restaurados olhos de maria, ao exergarem o mundo, dessa vez esqueceram as lentes do medo
Foi choque instantâneo, o fato de poder olhar e reconhecer-se
O que maria nao sabia mais era como odiar-se.
Percebeu, reparou. Era ela. E podia ser.
E amava ser.
Era Mulher. Era Maria.


Seu corpo, agora sólido, firme, estendia-se pelo mundo
saiu do espelho para ocupar toda uma existência.
Era Maria.
Seu corpo, pintado de todas as cores, denunciava-lhe.
Era Maria: mulher.
Era mulher e não tinha medo.
Era mulher e amava
Era mulher e amava outras mulheres.
Era mulher e amava-se.

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2016

vem cá e me dá um beijo
esquece as besteiras dos outros dias
cuida do meu peito
enquanto eu não esqueço de esquentar o seu

eu sei que às vezes tudo parece certo demais
de um jeito que até parece errado
mas fica calma, me abraça
que a história que nossos lábios contam são mais interessantes
que qualquer outro assunto

quando os ventos tempestuosos baterem
se lembre
da dança que dois corpos fazem
debaixo da chuva no box
cada gota marcando
o ritmo perfeito
a conexão

aliás, pensando melhor
não esquece nada
mas vamos recomeçar
deita aqui
deixa eu passar a mão em seus cabelos

que amor eu só penso
lembrando do seu sorriso.

Me deixa te ajudar a cuidar da terra desse jardim
vamos ver juntas a plantação florescer
que quando o sol raia
os passarinhos vem cantar do nosso lado

não é fácil,
e os frutos só nascem regados de suor e lágrimas.
Mas vamos ornamentar essa estrada de sorrisos
e beijos, e abraços
e nosso carinho tão nosso
que as vezes até ofende aqueles que não tem coração

segura minha mão
olha no fundo dos meus olhos
me deixa mergulhar no teu beijo de nuvem
que meu mar já vem anunciando terra a vista

é amor,
meu peito já me disse
um passarinho me contou
que teu sorriso vai iluminar o (meu) mundo.


sexta-feira, 29 de janeiro de 2016

Dialogando com estrelas

Minhas voz decidiu por escorregar os becos lamacentos da minha alma sem fazer barulho
já era tarde da noite quando me veio o primeiro deslizamento
- o segundo resolveu-se por cair só mais tarde, lá pros quintos ou sextos raios do dia.
A marca que ficou no chão não era profunda, mas um tanto quanto firme. Daquele jeito que só a lama fria, quando enrijece no chão, sabe ficar.

Era um pensamento que, de tanto crescer em si, ficou pesado demais para aguentar as lágrimas da chuva.
Caiu feito fruta madura do pé. Um cacho que esqueceu de considerar a força do galho em que se apoiava - esqueceu o mundo ao redor, não viu que sua sustentação não dependia só de si; quando deu por conta, já era parte do vento ao encontrar seu caminho ao chão.

Foi ao perceber-me enquanto mortal. Não só criatura que decompõe, envelhece, falece; mas enquanto ser mortal, atingível, perfurável. Ser humano, não blindado de auto-cuidado, mas vulnerável tanto quanto qualquer outro pedaço de carne que se rasga. E por ser humana, de pele ainda mais rasgável, sensível não só aos metais, mas também a toda vã criatura que nos decida cruzar o caminho. É a finitude e tudo que ela representa em si - a exposição, que traz o calor do sol, como também as pragas ao meio dia.

Calcular a espessura é imprescindível nas estradas da vida. "Tudo é uma questão de medida". Da mesma necessidade em que surgem as fronteiras limítrofes entre nós e os outros, vem também o anseio para que não façamos de tais divisas muros inalcançáveis e inabaláveis.

A única coisa que sei é que habita em mim um ser. É incrível isso! Pense: um ser. Alguém que não só sente, mas também pensa e observa tudo ao seu redor. Tece histórias, constrói laços, certezas, caminhos. É gente. E mais bestificante ainda: todas as pessoas ao meu redor cultivam em si seres tais como esse. Vivos, pulsantes, incansáveis.

Somos seres e compartilhamos a mesma dimensão de tempo e espaço, os átomos, as correntes elétricas, o ar, os risos, às vezes a comida, uns abraços, outros olhares... Somos gente vivendo com gente.

Temos medo, temos ausências. Temos por vezes a coragem, que ainda nos falta estampar na cara; mas que nunca nos falte a bravura de ir além. Que nunca deixemos de dar aquele suspiro antes da corrida, o impulso inicial. Somos a poera estelar que insiste em dimensionar em si só um quasar. Somos a soberba boa de nos vermos enquanto capazes de brilhar - e que por isso, brilhamos. E também a humildade de compreender que o de mais valia é um sorriso se desenhando no rosto.

É de amor que somos feitos. E crescemos ao conservar essa matéria dentro de nós. O cuidado de olhar nos olhos, se abraçar com afeto, de compreender e se fazer ser compreendido. É lidar, não suportar, não aceitar, não tolerar, mas de fato, conviver - viver, ser.


A voz lamacenta do meu coração, ao se arrastrar deixa seu rastro de sujeira, que é pra eu não esquecer, não fingir que não vi: somos gente. Tenhamos o cuidado de observar: os outros, mas também - e sempre - nós. Pois nós, enquanto que ainda assim gentes, somos mortais, findos, expostos. E só cavando por nossa própria mortalidade é que criamos em nós a firmeza, o amor e a felicidade capazes de nos tornar eternos.


quinta-feira, 14 de janeiro de 2016

eu amo essa mulher

foi o pensamento mais forte dessa noite
foi vendo ela debaixo da luz vermelha
cantando do jeito mais lindo
que só ela sabe cantar
olhando pra mim do jeito mais lindo
que só ela sabe olhar

foi debaixo da luz vermelha
feito faróis de carro
que um turbilhão me arrebatou
com a mesma força que arrebataria o carro dono dos faróis vermelhos
e foi só uma certeza (que já habitava meu coração há um tempo):
eu estou completamente apaixonada por essa mulher.

Por ela dançando na pista,
jogando os quadris de um jeito
que só ela sabe jogar
e o jeito de encenar cada música
que só ela sabe encenar
quando ela passa a língua pelos lábios,
empolgada ainda no movimento da dança e do canto


eu percebi que eu estou compleatemente apaixonada por essa mulher.
Foi quando eu olhei pra ela e achei que a era a coisa mais linda que já tinha visto na vida - e avaliando, de fato, depois conclui que era ela mesmo.
E, de repente, tudo que eu queria da noite era ver ela se mexendo debaixo da luz vermelha. Era a poesia dos movimentos dela dentro da noite
era só o sorriso dela
e os leds vermelhos em cima da pele dela.
Era que eu estava perdidamente apaixonada por ela.
De um jeito só dela. De quando ela era ela.
E tudo que eu tentava explicar a noite toda era que eu a via.
Eu a via do jeito dela. Na luz vermelha, na pista, me abraçando.

Tudo que eu via era ela.
Porque ela era ela, desse jeito
que só ela sabe ser
e que só eu sei ver.

Depois que eu entendi isso, veio o segundo e
ainda mais firme
pois assentado sob o primeiro,
ensinamento:


Enquanto ela dançava
a pessoa mais sábia do mundo
me disse, na sua pureza infinda:
Your Love is F R E E.