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quinta-feira, 24 de setembro de 2015

DO AMOR

Eu creio que tenho dificuldades de lidar com o amor. Sempre tive medo das incertezas e dos precipícios (apesar da vertigem querer e jogar), sempre fiquei no quase achando que era tudo, e no medo por falta de coragem de ser mais.
Em contrapartida, sempre dediquei ao amor tudo de mim. Mesmo ele sendo só uma pontinha, eu ia de cabeça. Mergulhava com vontade em riacho seco! Tinha tanto medo de ser pouco no amor, quer era demais. Vivia em desassossego, com medo da água secar e no amor acabar. Vivia me preocupando com cada passo, na angústia de que no próximo, meu amor se acabasse.

O amor pra mim sempre foi a vertigem diante do precipício: aquele desejo bem fundo de ir embora, mas com medo de se jogar. Aquela coisa racional que te diz que não pode, mas que quando vê, dentro de você só pulsa o anseio, e seu corpo já pende de um lado pro outro. É o olhar no infinito, quando acaba o chão e a gente se vê mundo.

Eu já tive amores que me contavam piadas, amores que declaravam eternidade. Amores que choravam, que se doíam - que me doíam. Tive amor pra chamar de amor, e pra ir fundo.
Mas eu nunca tinha tido amor de domingo.

Amor de domingo é aquele que chega mansinho, te agarra pela cintura e cheira o pé do ouvido! Amor de domingo é quando o céu fica de um azul bem clarinho, mas o sol não arde nos olhos. É quando tem um ventinho refrescante te abraçando na rede.

Amor de domingo, é o que dá descanso de toda uma semana e prepara pra próxima. É quando a gente atinge um estado de calmaria. Sorri devagarzinho, se ajeita nas cobertas, e se recusa levantar da cama tão cedo!
Ora, se me perco em frases etéreas é porque não encontro nome mais dócil e lindo pra esse amor que um domingo. É paz, é firmeza e é cuidado.

Muitas vezes, por justamente saber pouco do amor, questionei - e até esbravejei - "não me ama!!". Perdoe o drama, é que ainda me acostumava com o ritmo despreocupado do domingo. Mal sabia eu que o amor onde eu procurava, jamais poderia achar. Amor eu acharia noutros cantos.

Não acharia o amor nas constantes e demoradas declarações. Não veria seu rastro na veneração e nos elogios ininterruptos. Jamais, de forma alguma, poderia encontrar o amor no total esquecimento do seu ser em detrimento do meu, ou vice-versa.

Mas, na reviravolta, descobri um amor ainda mais lindo, ainda mais meu. O reconheci no sorriso leve de olhar nos meus olhos e acariciar minha alma. Ele estava nos alertas e nas preocupações com meu bem estar e, principalmente, com meu desenvolvimento.
Meu amor de domingo, eu o enxerguei na doçura que se esconde no dia a dia, na vontade de dormir juntinho, no encaixe dos corpos e na falta de medo.

Não me amedronta se a realidade nos apartar, desde que sua felicidade e a minha sejam plenas. Não me aterroriza nossa distância e a rotina, se estamos em paz. Me acomoda a firmeza, o cuidado e o xerinho no ouvido.

Me arrebata, a brisa de domingo no calor do verão.

quarta-feira, 9 de setembro de 2015

EU VI DEUS


Eu vi deus
e era uma mulher preta

Era uma mulher que me sorria, pedindo pr'eu cuidar de suas netas
Que me dava a missão
como quem recomenda o tesouro mais precioso
e eram

Eu vi uma mulher preta
Que me sorria, desejava boa noite
pra senhora também

Era preta. E sua pele era sofrida.
Mas sua boca sorria, e não tinha ódio
E pouca era a dor, calada diante de tanta esperança

Mas naquele corpo, naqueles ombros
Já se subiram as filhas, as netas, o mundo
A responsabilidade, a fome

o medo


Subiram os amores, os risos
A fé
Subiram como ela subia a ladeira, que dava em casa
Em Deus, subiram os sonhos.
Maiores que os meus, que os de todos ali

Era preta. Preta e sonhava.
Muito menos do que suas netas viriam a sonhar
muito mais do que a realidade queria permitir

Deus, que era mulher, que era preta
Que queria que eu cuidasse de suas netas
Que me recomendava com carinho
Que me dava boa noite e adoçava o café
Sonhava.

E mostrava, e fazia
que mesmo que te digam não
que mesmo que te tirem tudo
que te deem nada
Que DIGAM que você é nada
Deus era. Era mulher, era preta e era flor.

Floria de sonhos a vida, a boca e o destino

é garra, é força, é luta

Luta que não é mais só sua, é minha também.
É nossa.
Porque eu vi deus.
Eu olhei seus olhos e eu vi deus.

me deu missão -  eu cumpro.

Cê cuida delas?
Podexá,  a gente se cuida.