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quarta-feira, 6 de novembro de 2013

Sobre a Geração Saúde e sua doença

Durante minha infância, desde que me lembro, fui gordinha. Precisei tomar remédios para alergia e eles me renderam sobrepeso e algumas coisas a mais. Por ser uma criança "diferente", ainda mais tendo uma irmã "normal", muito cedo me ensinaram o que eu era: gorda, cheinha, robusta, fortinha etc.
Família, amigos e conhecidos, todos me tratavam assim, e isso me rendeu péssimos lembranças. Me tornei uma criança frustrada, insegura, tímida, irritadiça e muito difícil de lidar. Tive TOC, mania de limpeza e pensamentos depressivos, isso tudo antes dos 11 anos.
Por muito tempo eu vivia em guerra comigo mesma, não me achava bonita e todos os dias passava muito tempo no espelho pensando em como eu queria ser: uns dias loira, em outros ruivas, cabelo liso e, em todos eles, eu queria ser magra. Até que depois de muitas lágrimas e dietas loucas, eu consegui.
Aos 11 anos comecei uma reeducação alimentar e a me privar de alimentos comuns às outras crianças, ou seja, com essa idade eu já tinha uma alimentação à lá Pugliesi.
Muitas coisas mudaram depois disso, as pessoas me tratavam melhor e isso era algo recíproco. Me aceitei mais e comecei a me ver como uma pessoa mais legal. Mas mesmo assim morria de medo de engordar novamente e o peso nunca era bom o bastante, isso me levava à passar muito tempo fazendo exercícios e ocupando a mente com bobagens.
Porém, essa fase passou logo (amém!). Mudei de cidade, fiz novos amigos e isso me deixou mais livre dos esteriótipos de beleza que eu carregava. Vou ser franca e dizer que o primeiro quilo ganho me doeu, mas foi só esse. Com o tempo fui aceitando melhor os quilos que ganhei, e vi que o meu corpo estava melhor assim (pois antes eu estava MUITO magra, embora não percebesse).
Hoje em dia me aceito muito bem, mesmo com uns quilinhos extras, que pra mim caem muito bem. Me sinto segura, me sinto bonita e me sinto bem. Aprendi a manter um equilíbrio entre não me privar das coisas que gosto de comer, das saídas com as pessoas que amo, mas também prezo pelo bem do meu organismo e tento não exagerar nos alimentos que fazem mal.
Sendo assim, todo esse bem estar me faz ter certeza que eu sou plenamente saudável, física e psicologicamente.
No entanto, basta uma olhada rápida da internet para dar de cara com blogueiras e suas armas, digo, seus instagrams. Nessas redes sociais essas mulheres aproveitam para dar o exemplo, mostrando como seguir o estilo da "geração saúde" e alienam milhares de pessoas à seguirem seus passos e, se estas não conseguirem, lhes resta a insegurança, o desconforto e a insatisfação pessoal por... Adivinhem, serem normais!
Pois um ser humano normal não vive à base de frango, claras e batata doce, em uma dieta hiper restrita de carboidratos e proteínas em busca do "corpo perfeito" (como se ele existisse).
A questão é: não sou especialista em biologia, mas acho que não é necessário o ser para atestar que uma dieta saudável não pode ser composta APENAS de frango e batata doce!
Essas mulheres propõem seus corpos à exaustivos treinos, e os recompensam de forma deficiente. Ou sejam, são pessoas escravizadas por ideais de beleza doentios.
Aqui vale ressaltar que o nosso corpo nos foi dado como meio de bem estar, para que possamos realizar nossas atividades e nos sentir confortáveis. Mas, nunca, jamais, como finalidade de vida.
Portanto, desperdiçar todo o seu tempo cultuando e sendo escravizada por seu corpo e, além disso, incentivando milhares a fazer o mesmo não é saúde.
Nada contra quem quer seguir tal rotina, mas, apenas por piedade à língua portuguesa e ao bom senso, não ousem chamar isso de "geração saúde".